sexta-feira, 23 de novembro de 2007
As Irmãs Saletinas de Angola têm Novo Conselho
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Irmãs de Nossa Senhora de La Salette em Festa
Pe.António dos Santos Tchindau, MS
ENTREVISTA COM O ARCEBISPO DE WINDOEK - NAMÍBIA
Em finais do mês de Julho e princípios de Agostos a Região de Angola teve uma visita impar. Trata-se de D. Liborius Ndumbukuti Nashenda, Arcebispo de Windoek. Nesta sua curta passagem por Angola, tendo participado da reunião da IMBISA não se esqueceu de visitar os Missionários Saletinos. Ficou alguns dias na Catumbela. O Angolasaletteinfo foi encontro e extraiu-lhe palavras. Numa conversa interessante, o prelado falou dos motivos da sua presença em Angola e sobretudo do motivo da sua visita aos Missionários saletinos. Na sua simplicidade mostra um certo entusiasmo sobretudo com a ligação com os missionários angolanos. Não vale a pena perder, leia e comente.
Por: P.João Baptista Somboti e P.António dos Santos Tchindau, MS.
Línguas usadas: Português e Ingles; Tradutor: Pe.Avelino Sangameya, MS
1-Angola saletteInfo: Senhor Arcebispo, quais os verdadeiros motivos da sua vinda a Angola?
Arceb.: Em primeiro lugar, eu vim à Conferência da IMBISA que teve lugar em Luanda. E basicamente, IMBISA quer dizer, uma plataforma através da qual os Bispos da África Austral vêm juntos para trocarem impressões sobre certos aspectos pastorais nesta Região da nossa África. Desta conferência participaram os Bispos de Angola, São Tomé, Namíbia, Zimbabwe, África do Sul, Lesotho, Moçambique, Botswana e Swazilândia. Em Segundo lugar, quando fiz o plano de vir `a Conferência também pensei em encontrar-me com o Conselho Regional dos Missionários de Nossa Senhora de La Salette, pois eles têm seus membros a trabalharem na minha Arquidiocese. Então, quis chegar até aqui para constatar in loco a situação dos Missionários, as Missões onde eles trabalham pastoralmente como Saletinos. Esta é a razão pela qual me desloquei `a Benguela e concretamente à vila da Catumbela.
2-ASI – O Sr. Arcebispo fez um périplo pelo interior do País, nomeadamente Kwanza Sul e Huambo. O que é que esses lugares representam para si, Sr. Arcebispo?
Arceb.: Em primeiro lugar, eu não queria chegar só a Luanda; queria ir até ao interior para ter um quadro global do que está acontecer em Angola neste preciso momento, pois Angola e Namíbia têm algo em comum: ambos experimentamos longos anos de Guerra. Mas agora, de um modo geral, alcançámos a paz. E eu queria ver, a grosso modo, qual é a situação real do povo, qual é o seu sentimento depois de se ter alcançado a paz em 2002. Esta foi a razão pela qual decide fazer este périplo, através da hospitalidade dos Missionários de La Salette, de modo muito especial, o Conselho Regional que colocou `a minha disposição uma viatura para o efeito. Neste passeio que acabas de mencionar, tive o privilégio de visitar dois ex-campos onde os Namibianos viveram exilados por mais de trinta anos antes da independência do nosso País. Estes dois elementos (os campos) jogaram um papel de relevo na minha vida como namibiano. E esses dois lugares situam-se um em Kwakra (perto do Sumbe) e o outro em Kalulu (perto do Dondo). Em Segundo lugar, visitando diversos lugares, sobretudo onde tivemos acomodação, pude ter uma ideia clara do trabalho missionário que a Igreja Católica está a desenvolver neste País. Pude constatar como os presbíteros, as religiosas e os leigos trabalham arduamente para reconstruírem as Missões e criarem condições dignas para uma evangelização adequada. Politicamente, constatei in loco o quanto o Governo está engajado nesse processo de reconstrução nacional, ensaiando e implementando diversos projectos a fim de reconstruir e/ou renovar as infra-estruturas destruídas pela Guerra. Economicamente, pude ver o povo a começar a trabalhar as suas hortas e nacas para produzir algo e ganhar a vida, e também fazer algum negócio a fim de tocar a vida para frente. Socialmente, pude sentir que o povo está feliz e confiante que a paz veio mesmo para ficar. O povo aposta na atitude de que “agora temos de viver mesmo em paz, num espírito da reconciliação e reconstrução”. Basicamente ‘e tudo o que eu tive a honra e o privilegio de observar, duma forma muito limitada.
3-ASI – Na vertente Eclesial, qual é a diferença que o Sr. Arcebispo faria entre Angola e Namíbia?
Arceb.: Em primeiro lugar, Namíbia tem poucos católicos enquanto Angola é um País Católico. Aqui eu vi que a Igreja esta bem viva e activa e trabalhando muito para a inculturação. Em Segundo lugar, a Igreja aqui esta bem avançada para a auto-sustentabilidade, enquanto na Namíbia ainda estamos um pouco atrasados neste processo de fazer entender que os fiéis não estão ali só para receber, mas sim para fazer acontecer, mantendo viva a própria Igreja. Vejo que aqui já se avançou muito. Em terceiro lugar, gostaria de sublinhar aqui as relações Igreja-Estado: o Estado tem muito respeito para com a Igreja. Valoriza muito a actuação da Igreja. Da para sentir que Angola é mesmo um pais Católico. Desta forma, acredito eu, a Igreja Católica devia explorar este elemento para poder fazer mais, sobretudo na consolidação da Democracia, dando conselhos adequados ao Governo. Em quarto lugar, gostaria que a Igreja Católica continuasse a jogar o seu papel profético, publicitando e trabalhando pela paz e justiça, a fim de que economicamente possa haver uma redistribuição equitativa dos recursos de que Angola dispõe. Por último, gostaria de sublinhar que em Angola existem muitas vocações sacerdotais e/ou religiosas que mostram que a Igreja aos poucos esta caminhando para uma Igreja verdadeiramente local, o que é muito bom.
4-ASI – Feita esta sua apreciação nas relações Igreja-Estado, surge uma inquietação: não acha que essas relações muito boas podem minar o verdadeiro papel profético que deve caracterizar a Igreja?
Arceb.: Sim, e como já frisei antes, é muito importante que no contexto dessas relações, a Igreja Católica ainda devia manter uma certa distância de liberdade para poder dizer, criticar e aconselhar devidamente o Governo como o País deve ser governado. As relações boas, não significam que a Igreja deve ficar satisfeita ou concordar com tudo, até engolir os podres do governo. Boas relações significam crítica construtiva de e para ambos os lados. Na Namíbia também aprendemos com a mesma experiência: as nossas relações com o Governo são boas e muito saudáveis. Entretanto ainda nos reservamos o direito `a uma certa distância que nos permite exprimir a nossa opinião sem receio, e desta forma mantermos a nossa ética nas actuações. Na Namíbia decidimos ter dois encontros por ano com o Presidente da República. E nesses encontros o Presidente pergunta-nos, como Igreja, qual é a leitura que fazemos sobre a gerência do Governo em relação à coisa pública, (em resumo, como o Governo esta a trabalhar). Nestes fóruns, temos criticado e ajudado muito o Governo. Da mesma forma o Governo também não nos tem poupado onde eventualmente estejamos a falhar. Vezes houveram em que o Presidente dizia: vocês falam, falam, e pouco estão a fazer neste ou naquele assunto. Acho que isto é muito saudável. Portanto, a crítica construtiva não significa luta, mas sim partilha, apelo e orientação. E é desta forma que Igreja e Estado devem trabalhar.
5-ASI – Sr Arcebispo, depois da Conferência da qual acaba de participar, e do périplo que acaba de fazer pelo interior do pais, quais seriam as suas expectativas e seus receios em relação aos Bispos de Angola?
Arceb.: É difícil responder à esta pergunta, pois eu não tive a oportunidade de visitar todas as Dioceses de Angola que são tantas! Todavia, partilhando um pouco daquilo que foram as nossas discussões durante a conferência, começaria por dizer que o nosso tema foi “Boa Governação para o Desenvolvimento”, tanto na Igreja quanto no Estado. Boa Governação não foi só para os Bispos de Angola, mas sim para todos os Bispos da IMBISA. E boa Governação significa como devemos governar ou gerir as nossas Dioceses e nossas Paróquias. Na conferência três elementos da boa governação mereceram destaque: Accountability (Idoneidade); Transparency (Transparência) e Responsibility (Responsabilidade/Honestidade). Existem muitos elementos referentes à boa governação, sem dúvidas; mas esses três acima aduzidos foram os que consideramos muito importantes, e, por conseguinte, mereceram muita reflexão da parte dos Bispos. Brevemente receberemos as resoluções tomadas, e essas resoluções serão enviadas para todos os Bispos, e veremos, dentro de três anos como cada Bispo está a implementá-las em sua Diocese.
6-ASI – Temos missionários Saletinos que há mais de cinco anos trabalham na sua Arquidiocese. Acredito que foram para lá ao seu convite. Gostaria de saber o que o levou justamente a convidar os Saletinos, quando existem também outros missionários?
Arceb.: É muito simples. Para uma Igreja particular (Diocese) enriquecer-se tem que ser muilti-carismática. Eu acreditei que fazendo convite aos Missionários de Nossa Senhora de La Salette, eles enriqueceriam a nossa Igreja local com o seu carisma. Eu ouvi e li bastante sobre o trabalho missionário que os Saletinos desenvolveram cá em Angola: como ergueram as Missões, como se dedicam à causa missionária e como prepararam o terreno para eventualmente os Diocesanos assumirem suas responsabilidades. Este é, na verdade, o trabalho dos missionários dentro do contexto do seu carisma da RECONCILIACAO e ESPECIAL DEVOÇÃO À VIRGEM MARIA, NOSSA MÃE. De facto, agora falando dos que trabalham na minha Arquidiocese de Windhoek, fiquei muito impressionado com o seu zelo apostólico, como trabalham, sua atenção ao povo de Deus, etc., ao ponto de suplicar junto do Conselho Regional para me mandar mais membros para uma Segunda Missão. Neste preciso momento os Missionários de La Salette estão a evangelizarem e a gerir duas Missões na minha Arquidiocese. E eis porque estou aqui na Catumbela, para manifestar pessoalmente a minha gratidão ao Conselho Regional e estreitar ainda mais as nossas relações e consolidar a nossa cooperação no trabalho da evangelização.
MUITO OBRIGADO!