La Salette
Palavras, Sinais, gestos, atitudes...Uma leitura espiritual
"Aproximai-vos meus filhos, não tenhais medo" - um convite à Ressurreição
Sempre que se fala da Aparição de Maria em La Salette e da sua Mensagem, é tendência comum de quem já ouviu falar dela pensar naquela imagem em que Nossa Senhora aparece com o rosto entre as mãos, a chorar, como se a mensagem fosse de lágrimas, a anunciar o sofrimento, a dor, o luto e até a morte. De facto, o "fardo" que Maria suporta por nós não consiste senão na decadência espiritual, moral e religiosa da humanidade, simbolizada pelas crianças adormecidas, fechadas, resistentes, num primeiro momento, à graça do alto( vejamos a atitude defensiva de Maximino ante a assustadora "realidade": " Vá! Guarda a tua vara; eu guardo a minha e dou-lhe com ela se nos importunar..." ). À tal realidade não pode estar indiferente uma Mãe que ama verdadeira e ternamente os seus filhos, encafuados nas mais variadas amarguras quer físicas quer, e sobretudo, espirituais, criando nEla uma comoção tal que a olho nu dos videntes se transforma em "rio" de lágrimas. Com elas ( as lágrimas) Maria quer insinuar o sentimento ou a atitude que toda a criatura humana "pecadora" devia tomar dada a sua recusa propositada e obstinada do milagre da cura espiritual operada e oferecida gratuitamente pelo Redentor sobre a árvore da cruz.
Mas a Mensagem de Maria em La Salette, como o próprio Evangelho de Cristo, é sobretudo uma Mensagem de esperança; é uma janela aberta à única possibilidade de a humanidade encontrar novamente alívio e harmonia cósmica: voltar-se para Jesus Cristo e Cristo Ressuscitado, o único capaz de afugentar em nós os vampiros que nos empurram para o medo de nos aproximarmos do divino, das realidades celestes e do Reino, dando-nos a Sua Paz no Espírito Santo(Cf. Lc. 24, 36; Jo. 20, 19. 21-22. 26b) e que nos abre os olhos da fé à contemplação "confiante" do Seu rosto glorioso, a ponto de reconhecermos, como Tomé, a sua divindade e o seu Senhorio(Cf. Jo. 20, 28).
O "aproximai-vos meus filhos, não tenhais medo" de Nossa Senhora é um convite a deixarmos vazio o leito e o túmulo do nosso passado a que comodamente nos autocondenamos muitas vezes( medos, temores humanos, ciúmes, rancores, vinganças, desonestidade, individualismo, distrações, negativismos, ressentimentos, fofocas demolidoras, promoção de mentiras, desconfianças...) e ressuscitar, com Cristo, para uma vida digna de filhos de Deus convocados e consagrados a tornar real e visível a "caritas Dei" num mundo que teme o bem e olha com desdém os protagonistas da solidariedade, da amizade, da empatia ética, da ajuda, da alegria...
Salientemos que o diálogo com os videntes só aconteceu depois que estes se levantaram e se aproximaram de Maria que, nessa altura, também se põe em pé. Só rompendo as barreiras do nosso egoísmo que nos separam uns dos outros e aspirando a uma visão mais positiva do outro e dos sinais dos tempos, na tentativa constante de procurar conformar-se à imagem de quem nasceu do Espírito, será possível um diálogo franco e uma reconciliação sem "caricaturas". Precisamos de nos levantar do sono da morte que nos inferniza, de sair das ligaduras que nos fecham ao Espírito e que tornam imberbe o nosso modo de pensar e de agir ante as encruzilhadas da história e aspirar às coisas do alto( Cf. Col. 3, 1).
Configurar-se com Cristo e ser com Ele glorificado participando místicamente do mistério da Sua Morte e Ressurreição, o que exige ruptura com o ver, o julgar e o agir pura e simplesmente de acordo com o homem carnal(Cf. Rm. 6, 4-11.13.19), eis a vocação mais sublime do homem.
Pe. Celestino MUHATILI, MS
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